dijous, 25 de setembre del 2008

E mesmo o padre eterno que nunca foi lá/Olhando aquele inferno vai abençoar

O que será que será

Que andam suspirando pelas alcovas

Que andam sussurrando em versos e trovas

Que andam combinando no breu das tocas

Que anda nas cabeças, anda nas bocas

Que andam acendendo velas nos becos

Estão falando alto pelos botecos

E gritam nos mercados que com certeza

Está na natureza

Será que será

O que não tem certeza nem nunca terá

O que não tem conserto nem nunca terá

O que não tem tamanho

O que será que será

Que vive nas idéias desses amantes

Que cantam os poetas mais delirantes

Que juram os profetas embriagados

Que está na romaria dos mutilados

Que está na fantasia dos infelizes

Está no dia-a-dia das meretrizes

No plano dos bandidos dos desvalidos

Em todos os sentidos, será que será

O que não tem decência nem nunca terá

O que não tem censura nem nunca terá

O que não faz sentido

O que será que será

Que todos os avisos não vão evitar

Porque todos os risos vão desafiar

Porque todos os sinos irão repicar

Porque todos os hinos irão consagrar

E todos os meninos vão desembestar

E todos os destinos irão se encontrar

E mesmo o padre eterno que nunca foi lá

Olhando aquele inferno vai abençoar

O que não tem governo nem nunca terá

O que não tem vergonha nem nunca terá

O que não tem juízo


Chico Buarque